Eu não ia comentar nada sobre as eleições francesas, mas após ouvir, ler e assistir tantas inverdades sendo veiculadas pela imprensa brasileira, resolvi meter o meu "pitaco" no pleito gaulês. E quero falar sobre a candidata Marine Le Pen, desenhada como um "monstro" pelos "analistas políticos" tupiniquins e por parte da imprensa internacional.
Ela é nacionalista, racista e xenófoba ou, pelo menos, é o que seus opositores fazem questão de destacar. Ela quer tirar a França da União Europeia, quer banir a imensa maioria dos imigrantes do país e controlar rigidamente a entrada de novos e sobre isso não há debate, está explícito em seu programa de governo. Mas as propostas de Le Pen causam um enorme mal estar entre os defensores da União européia e isso acaba "contaminando" a chamada opinião pública brasileira (que ainda tem seus "analistas políticos" pautados pelo New York Times) e que acaba deixando a imagem de que um possível governo Le Pen seria um desastre para o ocidente.
Aos 48 anos, Marine Le Pen lidera a Frente Nacional, partido de direita fundado por seu pai, e nunca deixou de ser a mais controversa entre os candidatos à presidência do país. A tal ponto que, tão logo se classificou ao segundo turno, a maioria dos derrotados se uniu em apoio ao outro candidato, o "centrista" (somente um incauto pode acreditar que ele seja de Centro) Emmanuel Macron, na esperança de barrar a chegada de Le Pen ao poder.
Mas, tendo conquistado uma votação recorde para o seu partido no último domingo passado, o certo é que, Marine Le Pen já venceu as eleições e, mesmo que as urnas elejam Macron: são as bandeiras da Frente Nacional que hoje pautam o debate político francês e, a favor ou contra, mobilizam o eleitorado do país. E isso já representa uma enorme vitória para o partido e pensamento político de Le Pen (outro aspecto importante é a ausência dos tradicionais rivais: Socialistas e Conservadores, deste segundo turno).
Nesse sentido, a chegada de Marine Le Pen à liderança do partido, em 2011, representou simultaneamente mudanças e continuidades no legado de seu pai Jean-Marie: ao mesmo tempo em que se apropriou do discurso do pai no sentido de combater a imigração, favorecida por um contexto de crise econômica e migratória, Marine se desvencilhou de velhas bandeiras que encontravam grande resistência no público francês e já não encontravam eco no eleitorado jovem que, culpando os estrangeiros pelo desemprego, poderia vir a votar na Frente Nacional.
Marine compreendeu que não cabia mais ao partido, defender o antissemitismo, ter discursos homofóbicos. Isso não tem mais ressonância dentro dos eleitores conservadores. Marine Le Pen militou durante muito tempo na juventude da Frente Nacional. Então boa parte das pessoas que entram com ela é de uma geração diferente. Uma geração que cresce no liberalismo, onde o anticomunismo já não tem o mesmo significado de antes, onde manter o antissemitismo não significa absolutamente nada. Onde a "Gaiola das Loucas" é apenas uma comédia e não mais uma realidade.
Essa renovação ideológica em partes se apresenta, sobretudo, na política econômica de Marine Le Pen. Tendo formado seu partido durante a Guerra Fria, Jean-Marie se distanciava de políticas estatistas, posicionando-se como um ultraliberal. Sua filha é diferente: suas propostas incluem dar fim ao plano de austeridade implementado pela União Europeia, aumentar os serviços públicos e o estado de bem-estar social. Em alguns aspectos, ela está mais à "esquerda" do que da chamada "extrema direita" (a imprensa brasileira as vezes me irrita).
Os resultados foram pouco a pouco aparecendo e crescendo rapidamente. Nas eleições municipais de março de 2014, a Frente Nacional conquistou doze prefeituras no país um número pequeno, mas um recorde para o partido. Dois meses depois, em maio, a sigla conquistou a maior votação da França nas eleições para o parlamento europeu, ocupando 24 dos 74 assentos destinados ao país. O resultado chocou analistas no mundo inteiro: foi a primeira vez que a Frente Nacional havia acabado um pleito em primeiro lugar, e justamente para o congresso da União Europeia, da qual é crítica.
Le Pen conseguiu 21% dos votos neste primeiro turno (nunca seu partido havia conseguido tantos votos em uma eleição presidencial). No segundo turno, suas chances de terminar na frente de Emannuel Macron são menores (Macron conseguiu o apoio tanto dos conservadores quanto dos socialistas. Mas Marine já é vencedora, segundo as primeiras pesquisas, a francesa deverá receber em torno de 40% dos votos, isso significa muito para o seu partido e, principalmente, para as suas pautas e projetos de futuro.
Aguardemos o dia 07 de maio, mas uma coisa é certa, Marine Le Pen está longe de ser um "Monstro", pelo contrário, é uma das mais hábeis políticas de seu País e ainda tem muita "estrada" pela frente e suas pautas e ideologia ainda crescerão bastante não somente na França, mas em boa parte da Europa ocidental.
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