Venho
lendo/ouvindo/assistindo uma enorme quantidade de bobagens ditas aos 4 quantos
pelos novos “analistas políticos” de Redes Sociais. E uma dessas bobagens diz
respeito ao Conservadorismo ou ao Conservador (Até a questão semântica é
ignorada), em função disso, resolvi produzi um texto sobre o assunto. Quem sabe
alguém leia e comece a procurar saber sobre os fatos antes de opinar por
opinar.
Antes de
mais nada, o Conservadorismo é um pensamento político que defende, dentre outras
coisas, a manutenção
das instituições sociais tradicionais (Tais
como a família, a comunidade local e a religião) além dos usos, costumes,
tradições e convenções. O conservadorismo enfatiza a continuidade e a
estabilidade das instituições, opondo-se a qualquer tipo de movimentos de
caráter “revolucionários”. Mas é
importante entender que o conservadorismo não é um conjunto de ideias políticas
definidas e estáticas, pois os valores conservadores variam enormemente de
acordo com os lugares e com o tempo.
Por exemplo,
conservadores chineses, indianos, russos, alemães, franceses ou ingleses podem
defender conjuntos de ideias e valores bastante diferentes, mas que estão
sempre de acordo as tradições de suas respectivas sociedades.
No início do texto eu falei
sobre a importância de diferenciar “Conservadorismo”, pois acredito ser
importante não confundir o pensamento político conservador com a atitude em
relação às mudanças políticas chamada de conservadora (junto com outras como
reacionários, progressistas e radicais). O conservador neste último sentido
busca manter a situação política do
jeito que está, independentemente do conjunto
de ideias a que se aplica. É um termo normalmente aplicável a qualquer
pensamento político que esteja no poder. Um socialista ou
um liberal que esteja governando pode ser conservador
nesse sentido, pois deseja manter-se no poder e almeja a continuação de suas
políticas.
Um revolucionário torna-se um
conservador depois do sucesso de sua revolução.
O conservadorismo que quero abordar aqui é aquele que começa a
aparecer no Brasil e tem algumas semelhanças com o conservadorismo ocidental
existente na América Latina, na América do Norte e na Europa, pois todos eles
têm como base a doutrina cristã e a adoção, em maior ou menor grau, das ideias
políticas liberais. Mas é importante entender que mesmo o conservadorismo
ocidental possui várias vertentes e é difícil identificar um posicionamento
político específico. Partidos políticos conservadores podem até ter opiniões
divergentes entre si sobre algumas questões.
Bom, é possível determinar algumas
características importantes do pensamento conservador ocidental. O Conservadorismo
tem como seus principais valores a liberdade e a ordem (Não são os únicos, evidentemente, mas considero esses
dois fundamentais, para se entender um pouco do que quero abordar),
principalmente quando falamos de liberdade política e econômica e a ordem
social e moral. O conservador acredita que há uma ordem moral duradoura e
transcendente, que no caso do conservadorismo ocidental é baseada na doutrina
cristã e tem na religião a sua base. O conservadorismo valoriza a diversidade
típica do individualismo e rejeita a igualdade como um objetivo da política,
preferindo trabalhar com a liberdade e com a equidade (Não se trata igual, os
desiguais).
O conservador, assim como o libertário,
entende que a igualdade
político-jurídica é
suficiente para garantir a justiça necessária entre os indivíduos. Qualquer
desigualdade material ou de resultado é consequência inevitável das diferenças
naturais entre os indivíduos, de seus esforços e de suas decisões. Lembrando
sempre que cada indivíduo deve ser responsável por suas ações e escolhas, não
cabendo à mais ninguém (Principalmente ao Estado), arcar com as consequências
dessas ações/escolhas.
No campo político, o Conservador procura
preservar as instituições políticas e sociais que se desenvolveram ao longo do
tempo e são fruto dos usos, costumes e tradições. O conservadorismo
entende que as mudanças e o progresso são necessários para manter uma sociedade
saudável, mas essas mudanças devem ser naturais e graduais. Assim, a política do conservador é a
política da prudência, sempre preferindo manter e melhorar as instituições
estáveis e testadas do que tentar rupturas para implantar modelos de sociedade
e instituições advindas da razão humana.
Essa postura coloca o pensamento conservador
em conflito com ideologias essencialmente reformistas, que almejam criar uma
sociedade “perfeita” pelo uso da política. Para o conservador, a política é a
“arte do possível” e não um meio para se chegar a uma sociedade utópica. Um Conservador
sempre irá buscar uma estabilização política através das características de sua
sociedade, mas, via de regra, o Conservador ocidental é um indivíduo que
defende a Monarquia (Principalmente pela existência do Poder Moderador, algo
que se baseia muito nas tradições de um povo) e os valores da Tradição Cristã
No campo da Economia, o conservadorismo defende o
individualismo. A defesa da propriedade privada também é vista como uma questão
intimamente ligada à liberdade, pois não é possível ser livre se os meios de
sobrevivência de um indivíduo estão nas mãos de outros, dos quais acaba se
tornando dependente, principalmente se esses "outros" em questão
sejam o Estado e seus "braços" de controle.
Entretanto, a defesa de uma economia de livre
mercado não é assunto de consenso entre os conservadores de vários países do
mundo, inclusive aqui no Brasil. Mesmo os conservadores que defendem a
globalização e a abertura dos mercados ao capital internacional buscam adequar essa
integração somente no âmbito econômico e financeiro, protegendo a cultura e a
identidade nacionais de influências externas. (conseguem entender agora o
que foi o BREXIT do ano passado?)
Mas,
como o conservadorismo costuma ter fortes traços de nacionalismo,
as ideias econômicas acabam sendo influenciadas, portanto, boa parte dos
conservadores nacionais são adeptos de políticas econômicas
desenvolvimentistas, nacionalistas e protecionistas. Mesmo assim, esse fato não
impede que políticos conservadores sejam até hoje chamados de “neoliberais” na
América Latina, o que não é uma designação correta na maioria dos casos, visto
que muitos conservadores advogam políticas intervencionistas no âmbito
econômico.
Essa
“confusão” é provocada, principalmente, pela esquerda que conseguiu criar “rótulos
políticos” para denegrir seus adversários. Um conservador, mesmo os que
defendem o livre mercado, jamais podem ser taxados de neoliberais, pois
conforme escrevi aqui anteriormente, não existe essa história de “Liberal-Conservador”.
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