Lendo um artigo escrito pelo professor Olavo de Carvalho para o "Jornal do Comercio" em 2009, comecei a pensar o quão mal estamos lidando com a Educação neste País. Sei que isso vai gerar uma enorme polêmica, mas não existe coisa melhor para o crescimento, do que a oportunidade do debate!!!
Aos que se interessarem pelo texto, eis ele ai:
"Clicando no Google a palavra “Educação”
seguida da expressão “direito de todos”,
encontrei 671 mil referências. Só de artigos
acadêmicos a respeito, 5.120. “Educação
inclusiva” dá 262 mil respostas. Experimente
clicar agora “Educar-se é dever de cada um”:
nenhum resultado. “Educar-se é dever de todos”:
nenhum resultado. “Educar-se é dever do cidadão”:
nenhum resultado.
Isso basta para explicar por que os estudantes brasileiros
tiram sempre os últimos lugares nos testes internacionais.
A ideia de que educar-se seja um dever jamais parece
ter ocorrido às mentes iluminadas que orientam (ou
desorientam) a formação (ou deformação)
das mentes das nossas crianças.
Eis também a razão pela qual, quando meus filhos
me perguntavam por que tinham de ir para a escola, eu só
conseguia lhes responder que se não fizessem isso eu
iria para a cadeia; que, portanto, deveriam submeter-se àquele
ritual absurdo por amor ao seu velho pai. Jamais consegui
encontrar outra justificativa. Também lhes recomendei
que só se esforçassem o bastante para tirar
as notas mínimas, sem perder mais tempo com aquela
bobagem. Se quisessem adquirir cultura, que estudassem em
casa, sob a minha orientação. Tenho oito filhos.
Nenhum deles é inculto. Mas o mais erudito de todos,
não por coincidência, é aquele que freqüentou
escola por menos tempo.
A ideia de que a educação é um
direito é uma das mais esquisitas que já passaram
pela mente humana. É só a repetição
obsessiva que lhe dá alguma credibilidade. Que é
um direito, afinal? É uma obrigação que
alguém tem para com você. Amputado da obrigação
que impõe a um terceiro, o direito não tem substância
nenhuma. É como dizer que as crianças têm
direito à alimentação sem que ninguém
tenha a obrigação de alimentá-las. A
palavra “direito” é apenas um modo eufemístico
de designar a obrigação dos outros.
Os outros, no caso, são as pessoas e instituições
nominalmente incumbidas de “dar” educação
aos brasileiros: professores, pedagogos, ministros, intelectuais
e uma multidão de burocratas.
Quando essas criaturas
dizem que você tem direito à educação,
estão apenas enunciando uma obrigação
que incumbe a elas próprias. Por que, então,
fazem disso uma campanha publicitária? Por que publicam
anúncios que logicamente só devem ser lidos
por elas mesmas? Será que até para se convencer
das suas próprias obrigações elas têm
de gastar dinheiro do governo? Ou são tão preguiçosas
que precisam incitar a população para que as
pressione a cumprir seu dever? Cada tostão gasto em
campanhas desse tipo é um absurdo e um crime.
Mais ainda, a experiência universal dos educadores
genuínos prova que o sujeito ativo do processo educacional
é o estudante, não o professor, o diretor da
escola ou toda a burocracia estatal reunida. Ninguém
pode “dar” educação a ninguém.
Educação é uma conquista pessoal, e só
se obtém quando o impulso para ela é sincero,
vem do fundo da alma e não de uma obrigação
imposta de fora.
Ninguém se educa contra a sua própria
vontade, no mínimo porque estudar requer concentração,
e pressão de fora é o contrário da concentração.
O máximo que um estudante pode receber de fora são
os meios e a oportunidade de educar-se. Mas isso não
servirá para nada se ele não estiver motivado
a buscar conhecimento. Gritar no ouvido dele que a educação
é um direito seu só o impele a cobrar tudo dos
outros – do Estado, da sociedade – e nada de si
mesmo.
Se há uma coisa óbvia na cultura brasileira,
é o desprezo pelo conhecimento e a concomitante veneração
pelos títulos e diplomas que dão acesso aos
bons empregos. Isso é uma constante que vem do tempo
do Império e já foi abundantemente documentada
na nossa literatura.
Nessas condições, campanhas
publicitárias que enfatizem a educação
como um direito a ser cobrado e não como uma obrigação
a ser cumprida pelo próprio destinatário da
campanha têm um efeito corruptor quase tão grave
quanto o do tráfico de drogas. Elas incitam as pessoas
a esperar que o governo lhes dê a ferramenta mágica
para subir na vida sem que isto implique, da parte delas,
nenhum amor aos estudos, e sim apenas o desejo do diploma"
Um blog para descontrair, pensar, refletir, discutir, agir... Um espaço de divagações, de assuntos polêmicos, de assuntos engraçados, enfim, um Blog feito para todos nós!!!
terça-feira, 15 de março de 2016
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