Venho
reiterando há bastante tempo a ideia de
que a educação se tornou a falência do processo de pensar. Isso decorre
principalmente em função do processo de educação brasileira ser
predominantemente baseado em uma pedagogia doutrinária. Pois bem, esse
pensamento vem gerando uma série de opiniões relativas à precariedade da
educação no País, mas vale mencionar que a educação no mundo todo está num processo
de falência gravíssimo.
Como
parte da categoria, eu acredito que os professores são os profissionais mais
importantes da sociedade. Mais importantes do que psiquiatras, juízes de
Direito, políticos ou generais. Porque os professores trabalham o solo da
inteligência para que as crianças e os adolescentes não sejam tratados por
psiquiatras, não cometam crimes e sejam julgados por juízes; que aprendam a
escolher melhor os seus representantes e que usem a ferramenta do diálogo ao
invés da arte da guerra.
Se
assim fosse, teríamos mais poetas da vida e menos repetidores de
informação, sem capacidade crítica de pensar. Mas, se por um lado os
professores são os profissionais mais importantes da sociedade, por outro lado
a educação implementada ainda é retógrada. Por exemplo, ainda enfileira os
alunos em salas de aula, o que é ótimo para formar soldados para uma guerra,
mas péssimo para formar pensadores. Esse tipo de disposição,
registra ns mente o sistema de hierarquia que bloqueia o pensamento, dificulta a
expressão das ideias, o debate das opiniões e, consequentemente, gera conflitos
como timidez, insegurança e bloqueio da criatividade.
A
educação também está falida porque o sistema educacional nos impõe, como bem
diz o Dr. Augusto Cury, um sistema de ensino “fast food”, que significa um
conhecimento pronto, sem que se ensine o básico para a formação do pensar, que
é o ato de duvidar, o desafio das perguntas. Não se questionam as informações e
os conhecimentos que são abordados em sala de aula. Não se prepara o aluno para
utilizar a sua capacidade de pensar para chegar ao mesmo ponto através das mais
diversas possibilidades e não apenas aceitar passivamente a “verdade”
oficial.Trata-se da “verdade” imposta pelo “autoritarismo” da pedagogia
contemporânea e seus ideólogos que prezam uma educação “igualitária” e
pasteurizada, onde os alunos são privados de um bem preciosíssimo que é a
liberdade de pensar por conta própria. Isso tem feito com que os professores,
alunos e demais atores do processo educacional estejam estressados, sofrendo
daquilo que a Teoria Multifocal denomina como “SPA” (Síndrome do Pensamento
Acelerado), que consiste em pensar de forma desordenada, sem foco e onde o
cansaço se torna visível, tirando qualquer
estimulo saudável.
Por
essa razão, o último lugar no qual os alunos querem estar, é a sala de aula.
Como se não bastasse a precariedade do processo educativo, eles ainda são
bombardeados por estímulos não saudáveis, como o consumismo, o coitadismo, a
dependência de ferramentas digitais, que resultam numa ansiedade que nunca se
viu na história humana. É necessário que os professores passem por um processo
grande de reciclagem nos métodos de ensino aprendizagem, saiam do lugar comum
das teorias que já demonstraram ser
inadequadas ou ineficazes e busquem novas alternativas; aprendam a criar,
construir novas metodologias e práticas pedagógicas. Também é importante
destacar, que o professor não pode enxergar as ferramentas digitais como
“inimigas” do processo de ensino e sim utilizá-las como aliadas em suas aulas.
Sempre me questionei: Por que os alunos ainda ficam sentados enfileirados como
se estivessem em um quartel? Por que não se utiliza a música como aliada na
aprendizagem? (não somente como uma disciplina transversal, mas como ferramenta
para o fortalecimento do lado cognitivo do aluno), coisas que sei que muitos
colegas estão buscando trabalhar, mas que encontram resistências daqueles que
ainda entendem que educação é algo elitizado e quando muito, uma benesse do
estado.
No
Brasil, a educação emocional ainda não é tratada com a seriedade necessária.
Nada dessa coisa de “ética”, “valores”, boas maneiras, etc, tudo isso deve ser
uma consequência natural do relacionamento saudável. Vejo muitos colegas
educadores com resistências em trabalhar o lado emocional de professores,
alunos e famílias alegando que isso não tem sustentação acadêmica, que é coisa
de manual de “auto ajuda”. Ora, a educação passa por um processo de “doença
emocional” muito grave. Professores estão em seu limite, com um excesso de
cobranças, de metas absurdas a serem cumpridas. Os alunos estão cada vez mais
desinteressados em aprender na escola, pois preferem as informações que estão
disponíveis no mundo virtual. Vamos parar com esse sectarismo da educação
brasileira. Paulo Freire está longe de ser Deus; aliás, na minha opinião sua
teoria está longe de ser uma unanimidade. É necessário que se rompa com essa
visão unifocal da educação. Precisamos nos despir de dogmas e preconceitos e
partir para enxergar a educação de uma maneira multifocal, em seus diversos
ângulos e vertentes.
Eu
faço a minha parte: escrevo, trabalho e defendo a visão multifocal em diversas
atividades, mas principalmente na educação. Há alguns anos me “libertei” da
“monogamia do oprimido” e enxergo a educação de uma forma bem mais ampla. Mais
complexa também, mas sempre como uma válvula de libertação do pensar e do agir.
Sem essa liberdade de pensamento, fica impossível se trabalhar uma educação de
qualidade.
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