Eu escrevi este texto ano passado, mas penso que o texto é bem atual. Por isso resolvi reproduzi-lo. Opinem:
"Travando
debates acalorados com amigos e estudando um pouco o cenário
político-econômico do País, resolvi escrever um pouco aqui neste
espaço sobre "Poder", uma palavrinha muito ouvida e falada
nos últimos tempos aqui no Brasil em particular e ouço muitos
falarem aos 4 cantos que o "poder vem do dinheiro", "quem
tem dinheiro, tem poder". Mas será que essas afirmações são
verdadeiras? De fato, somente ter dinheiro é suficiente para se
deter o Poder?
Vamos
analisar um pouco o inexpressivo capitalismo tupiniquim, o grande
empresário brasileiro tem uma "mentalidade de servidor
público", eu explico, ele começa a crescer, ganhar algum
dinheiro e resolve que não mais vai querer concorrência, não vai
querer correr riscos, busca uma "estabilidade" no mercado
que não existe e ai começam a combinar preço, formando ai os
chamados "carteis" (onde os preços são previamente
estabelecidos e não dando ao consumidor a oportunidade de escolher
qual o melhor preço e as vezes serviço que melhor o atenda) e
nisso, as suas empresas acabam se "associando" ao Estado,
pois esse Estado se torna o único cliente capaz de remunerar os
serviços dessas empresas.
E
ai o que acontece? Segundo Raymundo Faoro, essas empresas acabam se
incorporando ao "estamento burocrático", isso forma um
mecanismo de "donos do poder", que transformam a burocracia
estatal em um instrumento dos interesses de poucos e deixa de ser uma
máquina administrativa e impessoal e que visa apenas os interesses
do conjunto da sociedade, como acontece nas democracias normais.
Ai
chegamos em uma conclusão interessante, o nosso sistema acaba não
sendo nem capitalista e nem socialista e sim, um sistema
patrimonialista, como muito bem já expressou o professor Faoro e
outros pensadores mais liberais, tais como: Ricardo Velez Rodriguez,
Antônio Paim e o embaixador Meira Penna, essa observação é muito
importante para não cairmos no discurso fácil da esquerda de dizer
que todos os nossos males sociais são provenientes do capitalismo.
Mesmo durante a década de 70 do século passado, uma parte da
intelectualidade da esquerda sabia que o principal obstáculo para
uma possível "Revolução Brasileira" não estava no
capitalismo e sim, nesse patrimonialismo que impera nesse país desde
a formação da elite empresarial brasileira.
Mas,
impregnados que estavam com os estudos da teoria de Antônio Gramsci
(da qual eu já escrevi aqui em postagens anteriores) e ansiosos que
estavam em tomar o poder, resolveram que era necessário se
conquistar a "hegemonia" cultural e partiram para a
infiltração nos diversos segmentos da sociedade (jornais, TVs,
revistas, meio artístico, universidades, etc), tendo demorado quase
40 anos para conseguirem seu intento. Esse processo culminou com o
êxito da eleição de Lula para a presidência e por conseguinte, a
"demonização" do capitalismo e da direita (incluindo ai a
associação da "direita" com a corrupção e o atraso),
com isso, houve uma quase que total aparelhamento de toda a máquina
estatal, portanto, mesmo sem possuir o dinheiro, esse grupo podia ter
o poder de controlar as relações políticas e econômicas.
Note-se
que, fora o enriquecimento pessoal de muitos dos dirigentes políticos
da esquerda, não foi o dinheiro que trouxe o poder para esse grupo e
sim a capacidade de controle da máquina burocrática e dos meios de
comunicação, além de possuir uma militância que estava disposta a
"morrer" pela causa e pelo projeto de poder (abro esse
parenteses para ressaltar que esse aparelhamento e essa construção
de militância, foi um processo longo e organizado com paciência e
habilidade pelos teóricos da esquerda e também pela inépcia da
direita e do empresariado brasileiro em perceber esse movimento),
isso é fundamental para que eu possa defender a minha argumentação
e recorro também aos aspectos mais recentes da crise da "Lava
Jato", onde se imaginou nesse país que donos das principais
empreiteiras estariam presos? E mesmo assim, o grupo político do PT
continua no poder, enfraquecido como nunca é verdade, mas ainda no
poder.
Venho
defendendo a tese de que esse poder esquerdista, com esse formato
(ancorado em movimentos sociais, sindicados, movimento estudantil,
etc), está fadado ao fim, mesmo que isso não aconteça em função
de um contraponto organizado pela direita e sim pelo seu próprio
esgotamento e percepção da sociedade que essa não é mais a sua
forma de sentir-se representada. Mas engana-se quem acha que isso
signifique o "fim hegemônico da esquerda", pelo contrário,
isso faz com que essa esquerda busque alternativas para manter seu
pensamento hegemônico (isso é bem fácil de perceber, vejam as
pautas ligadas à questão de gênero, racial, direitos humanos,
inclusão, etc, pautas essas que nunca foram temas consensuais dentro
da esquerda, mas que aparecem com uma alternativa para esgotamento do
modelo anterior).
Para
se chegar a deter o poder, é preciso que se apresente algo para
substituir o que está ai, é preciso que se ouça mais o que a
maioria (antes silenciosa e hoje batedora de panelas), quem quiser
ocupar o espaço que hoje é ocupado pelo PT, tem que apresentar para
a sociedade algo que seja melhor do que o que vem sendo apresentado
pelo imaginário petista, isso sim é poder, ou busca por ele. É
preciso romper com o patrimonialismo (coisa que o PT só fortaleceu
nesse seus 12 anos de poder) e colocar gente nos pontos chaves de
formação de opinião, colocar pessoas com pensamento contrário ao
existente e isso não vai acontecer enquanto o pensamento esquerdista
continuar presente nas mídias, nas artes e principalmente nas
universidades.
Eu
espero que esse pequeno texto sirva como uma inspiração para que
melhor pensemos sobre o que de fato é poder, não mais se deixar
levar pela ilusão de que apenas o dinheiro trás poder, basta
estudarmos a história humana, exemplos não faltam (Julio Cesar era
o "mais pobre" do 1º triunvirato romano, Napoleão era um
obscuro oficial francês, Hitler era um pintor medíocre, Stalin era
um ex-degredado da Sibéria e por ai vai), nenhuma dessas figuras
detinha o dinheiro, mas o poder de controlar as massas através da
estrutura burocrática do Estado, portanto, você até pode
enriquecer na busca pelo poder, mas não acredite que somente isso
será o suficiente para que se tenha o verdadeiro Poder, o Poder de
controlar corpos e mentes, o verdadeiro Poder".
3 comentários:
Perfeito!!! Patrimonialismo... Aprendi muito!!! Obrigada!!!!
Bem isso, minha cara Solange...grato,como sempre, por prestigiar o Blog!!!
Bem isso, minha cara Solange...grato,como sempre, por prestigiar o Blog!!!
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