segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O Poder

Eu escrevi este texto ano passado, mas penso que o texto é bem atual. Por isso resolvi reproduzi-lo. Opinem:

"Travando debates acalorados com amigos e estudando um pouco o cenário político-econômico do País, resolvi escrever um pouco aqui neste espaço sobre "Poder", uma palavrinha muito ouvida e falada nos últimos tempos aqui no Brasil em particular e ouço muitos falarem aos 4 cantos que o "poder vem do dinheiro", "quem tem dinheiro, tem poder". Mas será que essas afirmações são verdadeiras? De fato, somente ter dinheiro é suficiente para se deter o Poder?

Vamos analisar um pouco o inexpressivo capitalismo tupiniquim, o grande empresário brasileiro tem uma "mentalidade de servidor público", eu explico, ele começa a crescer, ganhar algum dinheiro e resolve que não mais vai querer concorrência, não vai querer correr riscos, busca uma "estabilidade" no mercado que não existe e ai começam a combinar preço, formando ai os chamados "carteis" (onde os preços são previamente estabelecidos e não dando ao consumidor a oportunidade de escolher qual o melhor preço e as vezes serviço que melhor o atenda) e nisso, as suas empresas acabam se "associando" ao Estado, pois esse Estado se torna o único cliente capaz de remunerar os serviços dessas empresas.

E ai o que acontece? Segundo Raymundo Faoro, essas empresas acabam se incorporando ao "estamento burocrático", isso forma um mecanismo de "donos do poder", que transformam a burocracia estatal em um instrumento dos interesses de poucos e deixa de ser uma máquina administrativa e impessoal e que visa apenas os interesses do conjunto da sociedade, como acontece nas democracias normais.

Ai chegamos em uma conclusão interessante, o nosso sistema acaba não sendo nem capitalista e nem socialista e sim, um sistema patrimonialista, como muito bem já expressou o professor Faoro e outros pensadores mais liberais, tais como: Ricardo Velez Rodriguez, Antônio Paim e o embaixador Meira Penna, essa observação é muito importante para não cairmos no discurso fácil da esquerda de dizer que todos os nossos males sociais são provenientes do capitalismo. Mesmo durante a década de 70 do século passado, uma parte da intelectualidade da esquerda sabia que o principal obstáculo para uma possível "Revolução Brasileira" não estava no capitalismo e sim, nesse patrimonialismo que impera nesse país desde a formação da elite empresarial brasileira.

Mas, impregnados que estavam com os estudos da teoria de Antônio Gramsci (da qual eu já escrevi aqui em postagens anteriores) e ansiosos que estavam em tomar o poder, resolveram que era necessário se conquistar a "hegemonia" cultural e partiram para a infiltração nos diversos segmentos da sociedade (jornais, TVs, revistas, meio artístico, universidades, etc), tendo demorado quase 40 anos para conseguirem seu intento. Esse processo culminou com o êxito da eleição de Lula para a presidência e por conseguinte, a "demonização" do capitalismo e da direita (incluindo ai a associação da "direita" com a corrupção e o atraso), com isso, houve uma quase que total aparelhamento de toda a máquina estatal, portanto, mesmo sem possuir o dinheiro, esse grupo podia ter o poder de controlar as relações políticas e econômicas.

Note-se que, fora o enriquecimento pessoal de muitos dos dirigentes políticos da esquerda, não foi o dinheiro que trouxe o poder para esse grupo e sim a capacidade de controle da máquina burocrática e dos meios de comunicação, além de possuir uma militância que estava disposta a "morrer" pela causa e pelo projeto de poder (abro esse parenteses para ressaltar que esse aparelhamento e essa construção de militância, foi um processo longo e organizado com paciência e habilidade pelos teóricos da esquerda e também pela inépcia da direita e do empresariado brasileiro em perceber esse movimento), isso é fundamental para que eu possa defender a minha argumentação e recorro também aos aspectos mais recentes da crise da "Lava Jato", onde se imaginou nesse país que donos das principais empreiteiras estariam presos? E mesmo assim, o grupo político do PT continua no poder, enfraquecido como nunca é verdade, mas ainda no poder.

Venho defendendo a tese de que esse poder esquerdista, com esse formato (ancorado em movimentos sociais, sindicados, movimento estudantil, etc), está fadado ao fim, mesmo que isso não aconteça em função de um contraponto organizado pela direita e sim pelo seu próprio esgotamento e percepção da sociedade que essa não é mais a sua forma de sentir-se representada. Mas engana-se quem acha que isso signifique o "fim hegemônico da esquerda", pelo contrário, isso faz com que essa esquerda busque alternativas para manter seu pensamento hegemônico (isso é bem fácil de perceber, vejam as pautas ligadas à questão de gênero, racial, direitos humanos, inclusão, etc, pautas essas que nunca foram temas consensuais dentro da esquerda, mas que aparecem com uma alternativa para esgotamento do modelo anterior).

Para se chegar a deter o poder, é preciso que se apresente algo para substituir o que está ai, é preciso que se ouça mais o que a maioria (antes silenciosa e hoje batedora de panelas), quem quiser ocupar o espaço que hoje é ocupado pelo PT, tem que apresentar para a sociedade algo que seja melhor do que o que vem sendo apresentado pelo imaginário petista, isso sim é poder, ou busca por ele. É preciso romper com o patrimonialismo (coisa que o PT só fortaleceu nesse seus 12 anos de poder) e colocar gente nos pontos chaves de formação de opinião, colocar pessoas com pensamento contrário ao existente e isso não vai acontecer enquanto o pensamento esquerdista continuar presente nas mídias, nas artes e principalmente nas universidades.

Eu espero que esse pequeno texto sirva como uma inspiração para que melhor pensemos sobre o que de fato é poder, não mais se deixar levar pela ilusão de que apenas o dinheiro trás poder, basta estudarmos a história humana, exemplos não faltam (Julio Cesar era o "mais pobre" do 1º triunvirato romano, Napoleão era um obscuro oficial francês, Hitler era um pintor medíocre, Stalin era um ex-degredado da Sibéria e por ai vai), nenhuma dessas figuras detinha o dinheiro, mas o poder de controlar as massas através da estrutura burocrática do Estado, portanto, você até pode enriquecer na busca pelo poder, mas não acredite que somente isso será o suficiente para que se tenha o verdadeiro Poder, o Poder de controlar corpos e mentes, o verdadeiro Poder".


3 comentários:

Solange Gomes disse...

Perfeito!!! Patrimonialismo... Aprendi muito!!! Obrigada!!!!

Thomaz Campos disse...

Bem isso, minha cara Solange...grato,como sempre, por prestigiar o Blog!!!

Thomaz Campos disse...

Bem isso, minha cara Solange...grato,como sempre, por prestigiar o Blog!!!

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