segunda-feira, 30 de julho de 2012

Minha coluna dessa semana na Gazeta 24 Horas


Cultura e Educação Digital

Meus caros leitores, desde que comecei a escrever nesse espaço, sempre pautei os assuntos no campo político. Já dissertamos sobre marketing, sobre ética, sobre articulações, enfim, das mais diversas formas que poderíamos conversar sobre o tema. Na coluna de hoje vou abordar um tipo de política muito mais importante talvez, mas que não diz respeito ao processo eleitoral e sim sobre cultura e educação. Participei na semana passada, como debatedor, da Jornada Pedagógica do colégio OPET aqui em Curitiba. O tema em questão era “a utilização das redes sociais na educação”.Por ser muito instigante e estar presente na grande maioria das discussões que tenho participado pelas escolas do Paraná e Santa Catarina, nessas discussões, percebo uma angustia muito grande por parte dos docentes quando o assunto é o uso das ferramentas digitais em sala de aula.
As tais ferramentas digitais se multiplicam com uma velocidade cada vez maior, muitos são os recursos que surgem a toda hora, fazendo com que aquilo que temos hoje, passe a se tornar obsoleto amanhã! Essa rapidez promove os mais acalorados debates, sem que se tenha uma opinião definitiva sobre o tema. O grande entrave desse processo é que as tecnologias avançam e o professor, a personagem mais importante do processo de ensino aprendizagem, não se encontra preparado para utilizar por completo todas as variáveis dessas tecnologias. Sem essa capacitação, o professor fica cada vez mais resistente em utilizar de recursos do quais ele não tem domínio. É como se ele voltasse na condição de aluno, mas um aluno que tem que apresentar o seu trabalho diariamente aos seus professores (existe ai uma inversão dos valores e das posições de aluno/professor na relação de ensino/aprendizagem). Sendo assim, o professor encontra nessa situação, uma barreira muito grande de comunicação com os seus alunos que em sua maioria já são alunos com uma cultura digital mais apurada, hoje no Brasil, temos a primeira geração totalmente digital de pessoas, aqueles jovens que nasceram em 1992 e que tinham 02 anos quando a internet foi aberta ao público aqui no País.
Esses jovens já possuem um domínio digital tão mais apurado, que me permite dizer, sem os respectivos treinamentos e a uma política de educação e cultura digital mais eficaz de nossos governos, os professores estarão fadados a ter uma enorme dificuldade de comunicação com essa geração. Sei que existem vários projetos acontecendo pelo país a fora,onde professores conseguem interagir perfeitamente com os seus alunos utilizando-se de várias formas de comunicação digital. Mas são exceções, na maioria dos casos, o que se constata são as dificuldades dos colegas professores em ministrar suas aulas usando os recursos oferecidos pelas ferramentas digitais. Usar as redes sociais, os softwares, os programas e até mesmo de sites de buscas não deve ser um tabu para os colegas professores em sala de aula e sim uma forma de aumentar a nossa sede por novos desafios e novas descobertas no campo do conhecimento. Esse processo não pode acontecer de forma desorganizada, é necessário que se programe urgentemente uma séria política de cultura e educação digital e isso não é somente colocar computador em todas as escolas, não basta ter acesso de internet cada vez mais amplo e gratuito. Será muito mais eficaz que no processo de ensino/aprendizagem, o professor seja capacitado emcompreendere utilizar essa nova realidade, nesse “novo mundo”.
Chegamos a “1984”, não o ano, mas metaforicamente naquilo que George Orwell escreveu em seu ultimo romance, em que fala sobre uma sociedade totalitária, onde um “grande irmão” vigia os passos de todos e fala da solidão humana diante do aparato do estado. Pois bem, Orwell publicou sua obra em 1949, meses antes de morrer e hoje, 2012, vivemos uma espécie de sociedade onde todos são controlados por um “grande irmão” chamado internet, onde vivemos uma “ditadura” da informação digital e cada vez mais nossa sociedade é formada por pessoas solitárias, que se relacionam virtualmente com o mundo inteiro e não consegue dizer “bom dia” para o vizinho ao lado. E como deve ser treinado o nosso professor para conviver em uma sociedade assim? Qual deve ser o papel desse professor nessa realidade cada vez mais impessoal e virtual? Alguns teóricos já não fazem distinção entre mundo “real” e “virtual”, para esses teóricos existe apenas um mundo, uma realidade, onde “real” e “virtual” se misturam em uma linha cada vez mais tênue de separação e distância.
Quando li “1984” (ironicamente no ano de 1984) não tinha maturidade necessária para entender o que havia ao meu redor, não poderia imaginar quanto era forte a influencia exercida por meios de comunicação em nossa formação. Hoje, após duas leituras da obra, posso dizer o quanto Orwell estava certo ao prever a atual sociedade que vivemos. O Brasil sofre bem mais com isso, pois não vejo no país uma política de educação e cultura digital que possa responder as necessidades que a situação exige. Repito e insisto apenas colocar computadores em salas de aulas ou liberar acessos gratuitos e mais rápidos à internet não significa inclusão digital. É preciso que isso seja trabalhado desde a formação do cidadão na escola e isso só será possível se o professor for preparado antes ou ficaremos reféns de bons e isolados projetos em escolas, e assim ficaremos muito aquém na hegemonia digital que o mundo está vivendo.

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