Um dos aspectos mais interessantes de se estudar História é que algumas vezes topamos que personagens históricos que nasceram nas condições mais adversas, sem nenhuma perspectiva de se tornar alguém importante ou influente e, essa humilde personagem, acaba por mudar ou influenciar os destinos de seus contemporâneos ou de várias gerações que virão depois. essas personagens podem ser pessoas de ação ou pensadores, mas de qualquer forma, suas atividades podem acarretar transformações imensas nas gerações a seguir.
Nesse cenário quero abordar a figura de Antonio Gramsci, que foi um homem de ação e principalmente, um homem de pensamento. E seja qual for a situação política ou cultural que esteja ocorrendo nos dias de hoje, tenha certeza que existe alguma "contribuição" do pensamento Gramsciliano por trás desta situação.
Não tenho aqui a pretensão de "dissecar" todo o pensamento de Gramsci, confesso me faltar arcabouço intelectual para isso, mas os anos de estudos e as constantes observações que faço do cotidiano, me permitem tecer algumas considerações sobre o que é e quais os efeitos do pensamento de Gramsci na cultura do ocidente e sua tentativa de "destruir" com aquilo que conhecemos como Cultura. Mas para começar a escrever sobre seu pensamento, é interessante falar um pouco do sardenho e irrequieto pensador:
Como quase todo jovem italiano que tinha um minimo de leitura política no inicio do século XX, Antonio se apaixonou pela teoria Marxista. Estudou História e Filosofia na Universidade de Turim, se filiou ao recém criado Partido Socialista Italiano. Com o final da Primeira Guerra Mundial, Gramsci criou o seu próprio jornal, o "Nova Ordem" (já pelo título do jornal, podemos ver o inicio do que viria ser a "obsessão filosófica" de Gramsci) em seguida, ajuda a criar aquele que seria um dos maiores partidos comunistas do ocidente, o PCI (Partido Comunista Italiano).
Com a ascensão de Mussolini ao poder em 1922, resta ao jovem Antonio fugir da Itália fascista e procurar asilo no lugar mais óbvio para um Marxista convicto que nem ele: A União Soviética! No entanto, a "Mãe Russia" não era bem o que Gramsci imaginava. O seu enorme poder de observação pode perceber a enorme distância entre a Teoria e a Realidade. Como um marxista fiel aos preceitos econômicos, políticos e históricos, Antonio ficou muito perturbado com a vida na URSS exibir quase nada daquilo que Lênin havia prometido com a Revolução de 1917 (aquele "Paraíso" na Terra, estava longe de existir).
Pelo contrário, Gramsci percebeu que o tal "Paraíso" da classe operária mantinha o seu domínio somente através do terror, das matanças e através do medo de "visitas noturnas" que acabavam levando o visitado ou para a Sibéria, em trabalhos forçados ou para as mãos dos carrascos de plantão. Gramsci percebeu também, que era crucial para o Estado criado por Lenin, era a constante difusão da propaganda, dos slogans e das mentiras obvias. Tudo isso desperta no jovem idealista uma enorme desilusão e um começo de sua forma de pensar a Revolução Comunista, que viria a ser o conceito de "Hegemonia".
Mas vamos adiante... Quando Lenin morre, em 1924, e Stalin assume o poder, a situação de Gramsci na URSS começa a ficar desconfortável. Stalin não somente aprofunda as táticas de governo Leninistas, como começa a transformar a agrária URSS, em uma potência industrial e militar. Como para tal, Stalin começou a perseguir, exilar e matar seus oponentes e até aliados que pudessem colocar em risco seus projetos, Gramsci entendeu que seria "menos perigoso" para ele voltar para a Itália, mesmo essa Itália sendo governada por Mussolini, pasmem!!!
Ao voltar para casa, Gramsci tem como objetivo, obviamente, lutar contra o regime de Mussolini e, obviamente também, sua presença em solo italiano gerou o temor por parte do governo de quais seriam suas ações e quais "problemas" ele poderia criar seja como um opositor feros ou como agente de uma nação estrangeira. E é ai que o governo de Mussolini vai criar a condição física necessária para que Antonio Gramsci se tornasse um dos maiores e mais perigosos influenciadores do século XX, o governo Fascista ordena a sua prisão!
E é justamente preso, que Gramsci irá se revelar o mais genial adversário que a cultura ocidental poderia ter. Passou seus últimos 9 anos de vida preso e lá escreveu 9 volumes, que passaram a ser conhecidos como: "Cadernos do Carcere" (são textos sobre História, Sociologia, Teoria Marxista e o mais importante de todos os temas Estratégia Marxista). a importância destes "Cadernos" está no fato de criar uma nova mais eficaz teoria Marxista, que faz a tese de "Revolução Espontânea" de Lenin parecer coisa de principiante. Lenin propunha conquistar voluntariamente o mundo para o marxismo. Gramsci foi analisar aspectos mais profundos da História e da Psicologia humana, tornando a estratégia de cooptação marxista algo mais concreto e não baseada em desejos vazios e ilusões.
A importância dos escritos de Gramsci é tão grande, que serei obrigado a escrever outros textos sobre seus trabalhos (uma sequencia deste, que acabou se tornando um texto de "apresentação" da personagem). Buscarei mostrar nos outros textos como um sujeito que morreu na cadeia, de tuberculose e em completa solidão, pode se tornar um dos pensadores mais poderosos da humanidade e como seus escritos influenciaram e influenciam até hoje, os rumos que a estratégia marxista vem tomando nos dias de hoje... (segue)
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