"Eu acredito na América"
Com essa esperançosa e afirmativa frase se inicia um dos maiores épicos da história do cinema, um filme de proporções inimagináveis e causador de um dos maiores impactos nas estruturas da história da chamada "sétima arte"
De fato, O Poderoso Chefão é mais do que um filme, chega a ser um divisor de águas no que se refere a grandes mudanças no cenário do mundo cinematográfico. Acabando a chamada "Era de Ouro" de Hollywood e se iniciando uma nova fase de super produções nas mãos de novos diretores mais ousados, entre eles Martin Scorsese e Brian De Palma, esse filme conseguiu seu lugar ao sol no que diz respeito à inovação e tamanho.
Em um período de disputas acirradas, Francis Ford Coppola conseguiu criar uma obra-prima tão poderosa que em breve ganharia uma continuação tão suprema quanto. (um dos raros casos de uma continuação chegar a se comparar com o filme original). Seu filme é tenso, real, ousado e com um elenco que poucas vezes se viu em uma produção da grandeza de um Poderoso Chefão!
Mas por que eu comecei este texto usando a frase da personagem Amerigo Bonasera?
Porque a referida frase não foi colocada sem propósito no começo da saga. Na verdade, há inúmeras mensagens e predições sobre o que nos aguarda no decorrer do filme apenas com essa frase.
Começava com os anos 70 do século passado uma nova fase no cinema, com grandes produções vindas em grandes quantidades. Novas temáticas invadindo as telonas, quebras de tabus, mensagens subliminares nem tão subliminares assim como foram antes, etc. Era um grande momento para o cinema americano, assim como era uma época importante no cenário geopolítico do mundo.
O Poderoso Chefão, um filme de proporções gigantescas e temática forte surgiu acompanhando a America do Norte, em especial Estados Unidos, rumo ao poder absoluto. Coppola criou um épico que tinha como principal objetivo mostrar poder e dominação. Os protagonistas do filme, Don Vito Corleone e seu filho Michael são a representação perfeita da força do filme, assim como demonstram em certos momentos a fragilidade que também aflige os fortes, a "humanização" das personagens é uma das mais geniais "sacadas" da direção do filme, um mérito que Coppola carrega com maestria para a eternidade.
Através da saga dos Corleone, somos lançados num universo repleto de violência e injustiças, onde o crime predomina sobre a política e a polícia. As décadas de 40 e 50, como sabemos hoje, foram marcos no que se refere ao poder dos mafiosos, e a família Corleone representa bem como estrangeiros conseguiam dominar melhor o território americano. Dominando sobre políticos, policiais, diplomatas, executivos, empresários e até mesmo sobre os poderosos diretores e produtores cinematográficos, os mafiosos mantinham poder sobre toda a cidade.
A única oso “das antigas”, não se adapta as mudanças que vão surgindo no cenário urbano.
Surgia com força total o mercado negro dos narcóticos, que prometia muito em relação ao futuro. Negando-se a se unir a outras famílias mafiosas italianas nesse novo mercado, Don Corleone acaba comprando uma briga gigantesca com o clã de famílias imigrantes da cidade.
Começa então uma guerra entre os poderosos, onde apenas o mais soberano manteria o poder sobre todas as outras famílias, que é marcada por toda a transformação que vai ocorrer, tanto no seio da família Corleone, mas também em toda a sociedade norte americana da época e a sua influência para o resto do mundo pós guerra.
Mas não é apenas pela ação e pela magnitude da produção que o filme vale à pena ser "apreciado" (aqui vai uma singela homenagem deste que vos escreve: O Poderoso Chefão não deve ser apenas visto, ele merece a verdadeira contemplação de uma obra de arte). O filme possui uma soberba direção, fotografia e trilha sonora. Tem um roteiro invejável. Tal roteiro não se foca apenas em cenas violentas, mas também tem aborda um drama familiar verdadeiramente comovente.
A difícil e frágil relação entre Don Vito (interpretado por Marlon Brando, naquela que acredito ser a mais assombrosa interpretação de um ator no cinema norte americano) e seu filho querido Michael, (vivido pelo então iniciante Al Pacino), é tão real e profunda que chega a aliviar um pouco a tensão gerada pela história central. A violência dá lugar à um amor tão forte e tão cúmplice, que você chega a esquecer que se trata de um filme sobre gangsters.
Al Pacino assume a frente do filme em determinado momento da trama, de modo que é importante que entendamos sua relação com o protagonista da primeira metade do filme. Seu personagem é complexo e profundo, mostrando-se relutante em assumir os “negócios da família” e desejando seguir uma profissão honesta e digna, diferente da bagunça em que sua família toda estava metida, tornado-se de certa forma uma ovelha negra.
Mas apesar de suas convicções, é Michael que tem a maior capacidade intelectual e emocional de comandar os negócios da família, deixando-o assim dividido entre suas convicções e sua vontade desesperada de agradar seu pai pelo menos uma vez.
É também pelo roteiro, juntamente com uma direção espetacular, que somos levados cenas inesquecíveis. A sangrenta e famosa “seqüência da cabeça do cavalo” é simplesmente genial e ousada, sendo até hoje uma das mais fortes do cinema.
Igualmente forte, só que de maneira diferente, é a cena derradeira de Don Vito Corleone no jardim de sua casa, brincando com o neto, chega a ser uma verdadeira aula de dramaturgia (em meus exageros de fã costumo dizer que têm atores que passarão a carreira inteira tentando "aprender" a interpretar essa cena).
Os momentos em que a talentosa Diane Keaton (um dos poucos nomes femininos da trama) aparece são também inestimáveis, já que sua personagem é a mais forte do elenco feminino. Sua Kay Adams passa da frágil moça de New Hampshire, para uma forte e decidida mãe e esposa de Michael, mesmo desaprovando as ações do novo "Padrinho".
A soma de um elenco fora de série, com um diretor lendário e um roteiro impecável faz de O Poderoso Chefão um dos mais respeitados filmes da história do cinema. Seu poder e grandiosidade são elementos que até hoje não foram destruídos pela passagem de tempo. Mesmo sendo um filme de mais de 40 anos continua sendo surpreendentemente atual e necessário para qualquer um que se digne a dizer que gosta de cinema.
Algo raro de acontecer com filmes antigos, esse não se tornou brega ou ultrapassado em nenhum sentido, sendo até hoje tão forte e impactante quanto era em sua época de lançamento.
Por essas e por (muitas) outras, O Poderoso Chefão é tão essencial na história do cinema, não se pode pensar em falar sobre o tema, sem citar a inesquecível obra de Coppola. Muitos (como eu) o consideram o melhor filme de todos os tempos. Talvez não seja “o melhor filme do mundo”, mas deu início a uma das maiores e melhores trilogias de todos os tempos, mostrando ser tão poderoso e eterno quanto a personagem inesquecível que o protagoniza.
Quando fiz esse texto, além da minha adoração por esta obra de arte, levei em consideração o quanto as personagens de O Poderoso Chefão servem como objeto de analise para quem pretende trabalhar com aspectos humanos, eu que gosto de política, enxergo na obra de Coppola um verdadeiro "Manual" a ser seguido. Só em escrever essas linhas, já me deu vontade de, pela 81ª vez, assistir a saga da Família Corleone.
É o que farei!!!
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