Os amigos sabem que sou católico e como tal, estudo vários aspectos que considero de extrema importância para o fortalecimento de minha fé e da minha conduta como católico. A Santa Madre possui uma história riquíssima e que durante os últimos anos, vem sendo deturpada e até mesmo inverdades estão sendo propagadas. Em função disso, eu vou passar a escrever um pouco mais sobre a história do Cristianismo.
Hoje eu resolvi abordar um fato histórico muito importante, que aconteceu no século XVI e foi de suma importância para os destinos da Santa Madre nos anos que vieram a seguir. Estou me referindo ao "Concílio de Trento", que foi o XIX concílio ecumênico da Igreja, realizado entre os anos de 1545 e 1563.
Requisitada por várias partes e por muitas pessoas, dentre as quais o próprio Martinho Lutero por objetivos particulares e para escapar da condenação papal, a convocação de um concílio ecumênico concretizou-se só em 1545, após as malogradas tentativas realizadas pelo papa Paulo III em Mântua em 1537 e em Vicenza em 1538 e após o fracasso do colóquio de Ratisbona (1541) entre católicos e protestantes por iniciativa do imperador Carlos V. As provocações de Lutero e as diversas disputas entre as correntes de pensamento da Igreja e a influência exercida pelos príncipes, principalmente os germânicos.
Convocado para ser realizado na cidade italiana de Trento, em 1542, (cidade pertencente ao Império e, como tal, aceita pelos alemães e também pelos italianos), o concílio teve que ser adiado em função da retomada da guerra entre Francisco I e Carlos V, ficando para começar em 1545, ou seja, após a paz de Crépy (ocorrida em 1544) onde os dois soberanos haviam concordado em celebrar um concílio, comprometendo-se a respeitar as suas decisões. (note bem ai a importância da relação entre o poder eclesiástico e o poder dos príncipes e reis da época)
O Concilio de Trento finalmente foi convocado pelo papa Paulo III em sua bula "Laetare Jerusalem" (de novembro de 1544) e aberto no dia 13 de dezembro de 1545. A bula papal destinava ao concílio as seguintes tarefas:
1) A condenação dos erros em matéria de fé, a reforma dos abusos
2) A reconstituição da unidade da Igreja,
3) A cruzada contra os turcos.
Tiveram direito a voto (com o método de votação por cabeça) os cardeais, os bispos residenciais, os gerais das Ordens religiosas e os representantes das congregações monásticas. Também se fizeram presentes, embora sem direito a voto, inúmeros teólogos, representantes das mais diversas correntes teológicas, e os embaixadores dos príncipes católicos (novamente perce-se aqui a influencia da nobreza)
Os trabalhos do concílio giravam em torno das congregações dos teólogos (reuniões de caráter privado e meramente consultivo), as congregações gerais dos padres (em que cada qual com direito a voto exprimia o seu parecer acerca das propostas de dogma ou de reforma) e as sessões solenes, que sempre ocorreram na catedral de Trento e em que se votavam definitivamente os decretos convencionados.
Das 10 sessões solenes desse primeiro período (oito em Trento e duas em Bolonha), a mais importante foi a quarta (Abril de 1546), em que foi promulgado o decreto sobre a Sagrada Escritura (da qual foi estabelecido o cânon) e sobre as tradições apostólicas orais que devem ser acolhidas com a mesma reverência que a Sagrada Escritura (essa era uma enorme divergência que ocorria à época, seguir os evangelhos ou aceitar as demais tradições passadas de gerações e originalmente atribuídas aos apóstolos)
Na mesma sessão, foi aprovado o decreto sobre a edição Vulgata da Bíblia, ou seja, foi decidida a atribuição de autenticidade jurídica à tradução latina da Bíblia realizada por são Jerônimo, que a Igreja já utilizava havia séculos, mas que não tinha sido originalmente aceita pela cúpula da Santa Madre.
Na quinta sessão (junho de 1546), foi aprovado o decreto sobre o pecado original voltado tanto contra algumas instâncias otimistas pelagianas como contra o pessimismo luterano que afirmava que o pecado original permanecia mesmo após o batismo (um ponto importantíssimo nas diferenças existentes entre o pensamento luterano e os princípios da Igreja Católica)
Na sexta sessão (janeiro de 1547), foi aprovado o decreto sobre a justificação, estruturado em 16 capítulos, em que se expunha a doutrina a ser aceita como verdadeira e, em 33 cânones, em que se condenavam os erros. Esse decreto, um dos mais importantes do Concílio Tridentino, constitui a resposta do magistério da Igreja à doutrina da graça e da justificação de Lutero e enfatiza que, na obra de justificação, a vontade humana atua juntamente com a graça divina, rejeitando assim a noção protestante de justiça puramente imputada.
Na sétima sessão (março de 1547), foi aprovado por unanimidade o decreto sobre os sacramentos, sinais eficazes da graça instituídos por Cristo, para os quais se reforçou o número de sete sacramentos. Além desses decretos dogmáticos, nesse primeiro período do concílio também foram aprovados alguns decretos de reforma, como os que versavam sobre a obrigação de residência dos bispos, a atribuição de benefícios eclesiásticos e o ensino de teologia e da Sagrada Escritura nas catedrais e nos conventos.
Em 1549, o Papa Paulo III, em decorrência da epidemia de tifo e da transferência do concílio para Bolonha, suspendeu o Concilio de Trento. Essa atitude do sumo pontífice também tinha como objetivo, o de se livrar da excessiva ingerência do rei Carlos V. O Concilio só voltaria a ser reaberto em 1551, após a suspensão, pelo papa Júlio III, sucessor de Paulo III, o Concílio de Trento chega a ter seis sessões solenes, mas é novamente suspenso em abril de 1552, devido ao fracasso das negociações com os protestantes e à traição de Maurício da Saxônia, que passara a apoiar os franceses.
Contudo, no decorrer dessas sessões, o Concílio não deixou de discutir e aprovar importantes decretos, como os que versavam sobre a presença real de Cristo na Eucaristia (doutrina da transubstanciação), sobre a penitência (necessidade da confissão auricular) e sobre a extrema-unção.
O Concílio de Trento foi retomado novamente, sobretudo graças ao papa Pio IV, sucessor de Paulo IV. Caracterizado por uma presença cada vez maior de padres, nesse terceiro período do Concílio foram realizadas nove sessões solenes.
Na de fevereiro de 1562 (a XVIII sessão solene do Concílio), foi promulgado um decreto determinando a redação de um novo Índice de livros proibidos (livros estes que a Igreja considerava de cunho herege ou que vinham de encontro ao pensamento e a determinação dos escritos católicos)
Na sessão de julho de 1562 (a XXI), foi aprovado o decreto sobre a comunhão "sub utraque specie", que afirmava a presença real de Cristo sob cada uma das duas espécies do pão e do vinho, no momento da Eucaristia. Um reforço sobre aquilo que contradizia Lutero, de que a celebração era apenas "alegoria" e não representa um dogma.
Na XXII sessão, de setembro, tratou-se do sacrifício da missa.
Na sessão de 1563 (a XXIII), provavelmente a sessão mais concorrida, discutiu-se o sacramento da ordem sacra.
Dentre outros, destaca-se o cânon XVIII com o qual foram instituídos os seminários diocesanos para a formação intelectual e pastoral dos chamados ao sacerdócio.
Na XXIV sessão, de novembro de 1563, foram promulgados um decreto dogmático sobre o sacramento do matrimônio e numerosos decretos disciplinares referentes aos sínodos diocesanos anuais, aos concílios provinciais trienais, às visitas pastorais, à pregação, à instrução religiosa do povo, à atribuição de benefícios eclesiásticos. Acredito aqui ser importante para os atuais "defensores" de casamentos gays e afins, darem uma estudada para entender melhor o que significa o sacramento do matrimônio.
A última sessão solene (a XXV) estendeu-se excepcionalmente por dois dias, de 3 a 4 de dezembro de 1563, e abordou questões dogmáticas relativas ao purgatório, às indulgências, ao culto aos santos, à veneração das imagens de Cristo, de Nossa Senhora e dos Santos, além de várias questões disciplinares, nesse aspecto aqui também é importante um aprofundamento dos estudos dessas resoluções, para melhor entender a diferença entre reverência e adoração de imagens.
A assembléia conciliar foi encerrada pelo cardeal Morone, que teve papel importante no projeto de reforma desse terceiro período do Concílio, cabendo ao papa Pio IV aprovar todos os decretos conciliares, conferindo-lhes força de lei.
No dia 13 de novembro de 1564, o próprio papa publicou a "Professio fidei tridentina" com uma profissão de fé relativa a todas as decisões dogmáticas do Concílio e uma promessa de obediência à Santa Sé. Esse documento continua disponível para a consulta de qualquer pessoa, no site da Igreja e deveria ser estudado por mais pessoas, sejam elas católicas ou não, para melhor compreender a essência do pensamento e da prática católica.
Espero ter sido didático o suficiente para que desperte a curiosidade do leitor em procurar saber mais sobre a história da Igreja. O Brasil ainda é o maior País católico do mundo, mas cada dia que passa, os fiéis estão se afastando dos ensinamentos da Igreja. deixando de lado importantes aspectos de ética e moral que permanecem sólidos, mesmo com uma instituição que se mantém de pé, por mais de 2.000 anos.
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