Mas não quero escrever sobre morte, pois creio que temos um caminho a seguir após sairmos desse campo físico quero falar de vida, pois foi esse um dos maiores ensinamentos que recebi de Almir Gabriel durante os quase 20 anos de convivência que tive com ele e com sua família. Minha mãe trabalhou com ele na prefeitura de Belém e depois disso, eu tive a honra e o prazer de servir o meu estado, sob as orientações, as ordens e os ensinamentos de um dos maiores estadistas que esse país já viu nascer. E o termo estadista se aplica bem a figura pública de Almir, pois estadista é aquele que modifica as condições materiais de uma sociedade, aquele que implanta políticas de estado e não de governo apenas. E essa foi a principal característica das gestões de Almir Gabriel, desde quando foi secretário de saúde do estado, como prefeito de Belém e como governado do Pará por dois mandatos.
Almir pensava no cidadão como sendo a personagem principal do cenário político, suas maiores realizações não são aquelas físicas (onde em seus governos, ele mudou a cara do estado com obras físicas de fundamental relevância para o desenvolvimento do Pará), seus principais legados estão dentro de cada um de nós, paraenses, que, sob sua influência e inspiração, aprendemos que não éramos cidadãos de segunda classe, que somos e seremos sempre, tão grandes como qualquer outro estado da federação. A onda de "Paraensismo" que Gabriel nos mostrou foi muito mais importante do que todas as obras que foram ou possam ser erguidas no estado. Quando criou a rede de proteção social no seu primeiro mandato, em 1994, mostrou as bases de como se deve fazer um verdadeiro trabalho de assistência social e não de assistencialismo eleitoreiro. "Ensinar a pescar" era mais do que uma frase, era um dogma para nós, que trabalhávamos na secretaria de trabalho e promoção social. Não queríamos apenas dar comida e "esmolas", nossa missão era a de tirar cidadãos da condição de usuários da assistência, capacita-los e recolocarmos no mercado de trabalho, resgatando a sua auto estima e sua força produtiva.
Para tal, Gabriel foi personagem importantíssimo na constituinte de 1988, como senador, sendo um dos mais destacados defensores das conquistas sociais de nossa constituição. E soube, quando teve a oportunidade de governar, utilizar esses elementos constitucionais da maneira correta, da forma mais eficaz possível em prol da melhoria do cidadão. Almir era antes de tudo, humano, tinha defeitos e fraquezas como qualquer um de nós, mas no momento em que nós tínhamos a oportunidade de conversar com ele, não era uma simples conversa, era uma aula de vida, gestão e cidadania. Entendia a democracia como algo acima de qualquer outro preceito político, mas sabia muito bem que não somos iguais e sempre buscou tratar cada um da maneira que cada um deveria ser tratado. Com ele aprendi o conceito da equidade, com ele aprendi que democracia não se faz com populismo, com ele aprendi que o cidadão merece ser respeitado e não tratado como uma simples estatística de governo, com ele aprendi que democracia se faz com muita luta e não com pirotecnia. Antes de tudo, aprendi com ele a ser um ser humano um pouco melhor.
Sei que a dor de Almir José, Haifa, Sâmia e Marcelo não tem tamanho nesse momento, pois além de tudo o que todos nós perdemos com o falecimento de Gabriel, eles perderam o pai. O pai que sempre foi austero, muitas vezes turrão, mas que acima de tudo foi o pai deles. Aos meus queridos Almir, Haifa, Sâmia e Marcelo quero, além de me solidarizar com a dor, agradecer por todos os ensinamentos que tive com o pai de vocês e pela oportunidade da convivência com essa família. Minha gratidão é eterna.
Quem acompanha o que escrevo, deve lembrar que eu disse sobre a vitória do Gustavo Fruet aqui em Curitiba, sobre o fato de não sentir uma emoção tão grande desde 1994, pois bem, aos que não entenderam, eu me referia da emoção da vitória de Almir derrotando as velhas oligarquias paraenses que somente olhavam para o passado e para o próprio bolso. Foi uma emoção de esperança, de crença em um futuro melhor. Esperança essa que se tornou realidade após a gestão de Almir e que eu tenho certeza que vai acontecer o mesmo daqui a quatro ou oito anos, quando terminar a gestão de Gustavo. O paralelo entre essas duas figuras públicas de gerações diferentes, de personalidades diferentes, está na mesma preocupação de ambos com o ser humano, com a transformação para uma sociedade melhor.
Esse era o texto que nunca quis escrever e por isso não está nem perto da grandeza de Almir Gabriel, mas não podia ficar calado diante da partida do grande mestre. Me perdoe por não expressar sua grandeza como você merece, Dr Almir, sei que o senhor nunca foi um homem que gostasse de homenagens desse tipo, mas saiba que tudo, mas tudo mesmo que me foi ensinado não foi e jamais será em vão. sou um ser humano melhor e devo muito isso aos ensinamentos de um homem que teve a sua missão de médico salvador de vidas, transformada para um gestor líder de um povo. O Pará não foi e não será o mesmo depois do legado de Gabriel. Sua maior obra, como eu disse antes, está dentro de nós e isso jamais poderá ser perdido ou arrancado.
A partir de hoje Almir Gabriel nos deixa fisicamente, passa a fazer parte da história e eu tenho certeza que entre os erros e acertos de qualquer ser humano, Almir Gabriel conquistou um lugar entre os grandes da história não somente do Pará, mas também na história do Brasil. Que seus sucessores sejam dignos de aprender com seu legado e até com seus erros. O Pará voltou a ser grande e jamais deixará de sê-lo, essa é deve ser a nossa maior homenagem ao cidadão Almir José de Oliveira Gabriel.
Descanse em paz!
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