terça-feira, 29 de novembro de 2016

A dor do futebol, de uma cidade, de um País...do mundo!

Fui acordado às 6:30 da manhã de hoje com a notícia da tragédia envolvendo o avião que levava a equipe da Chapecoense Medellin, na Colombia, onde disputaria a primeira partida da final da Copa Sul Americana. 

Após assistir e ler todas as desencontradas notícias, não consegui produzir um texto que pudesse externar o que senti e ainda estou sentindo pela estúpida perda que tivemos essa madrugada. Encontrei em um texto do excelente cronista Mauro Beting, a síntese do que representou essa tragédia para todos nós, em função disso, resolvi reproduzi o texto aqui no Blog:

"Se Danilo não defende com os pés aquela última bola do time do papa Francisco, amanhã teria Atlético Nacional X San Lorenzo, em Medellín. Maravilhosa defesa e sensacional narração do Deva Pascovicci, no Fox Sports. Só vi pela Fox o lance ontem, segunda, fim de tarde, quando vi que o tuíte a respeito dela era tweet10 do próprio Twitter. Com a entrevista do Danilo ouvindo a narração emocionante do Deva (meu amigo e colega desde Sportv-96) na conversa com Victorino Chermont (meu amigo e colega desde Band-99, Record e Fox). Na hora peguei meu celular pra mandar abraços pro Deva e parabenizar pela narração com ''o espírito de Condá''. 

Mas tocou o celular. E eu esqueci de mandar a mensagem pelo WhatsApp. Era Mara, mulher do Mario Sérgio, meu amigo e colega de Band, Bandsports e Fox. Pai do Felipe, colega de clube do meu Luca. Meu ídolo de Palmeiras 84-85. Meu craque desde o Vitória, em 72.

Mara estava preocupada com a logística da viagem para a Colômbia. Voo cancelado, depois voo fretado da Bolívia para a Colômbia, volta incerta e não sabida. Falamos do Felipe. Dos outros filhos do Mario. Dos meus filhos. De como é complicada essa vida correndo atrás da bola pelo mundo. Mesmo papo que Deva teve comigo na última transmissão que fiz no Rio, pelo Fox Sports, antes de trocar de canal. Ele estava ainda com a vida entre dois Rios. De Janeiro e Preto. Mezzo carioca, mezzo caipira de São José do Rio Preto.
Coisas da profissão que abraçamos. Mas nada pode ser trocado pelo abraço de quem nos toca.

Eu estava vendo o #tweet10 do Twitter porque o meu comentário na Jovem Pan na manhã de ontem havia sido escolhido para ser o do dia. Aquele em que falo em que há exatos 4 anos eu não chorei quando dei a notícia mais exclusiva da minha vida: quando anunciei na Rádio Bandeirantes que meu pai havia morrido, ele que estava havia quatro dias em estado irreversível. Eu estava preparado. E li numa boa os quase sete minutos de texto que preparara para meu blog. Não para ler no ar e dar a notícia ao vivo da morte do meu pai. Meu maior ''furo'' em 29 anos de carreira foi dar a notícia para milhares que não consegui dar ou ter coragem de dizer aos meus dois filhos. Eles souberam pelo Twitter. 

O meu #tweet10 era por isso. E por eu ter falado que, no domingo, no Allianz Parque, 20 minutos depois de Jailson ser substituído por Fernando Prass, eu pela primeira vez em 26 anos de rádio havia chorado. Por relatar a emoção que eu e milhares tivemos pela simbologia da troca. De dois ídolos que nasceram nesses últimos quatro anos. Dois caras de carisma e caráter. Um Prass que eu soube que vinha ao Palmeiras no momento em que o meu pai saía do velório ao crematório. Foi a notícia que o presidente Tirone me deu até para me confortar naquele manhã de quinta de 2012.
Foi o que falei na Pan. Chorei por uma troca, não pela morte do meu pai. Como explicar? E olha que a troca era esperada. Mas ainda assim chorei. Sentimento não se explica. Não se mede. Não se justifica. Muito menos se cobra. Apenas se sente. E não tem como dizer nada para Chapecó e a Chapecoense. Os melhores dias da vida do clube. A torcida de quase todo o país pela Chape. Time que em 2011 estava sem divisão nacional. Clube que em 2016 era paixão do país pela comovente campanha na Sul-Americana. A Chapecoense não era Brasil. O mundo é Chapecoense.
Campanha espetacular que levou Deva, Mario Sérgio, Victorino, PJ Clement, Jumelo e colegas de ofício e companheiros de futebol para Medellín. Cobertura que talvez eu fizesse se eu ainda estivesse trabalhando no Fox Sports. Casa que me deu tudo por três anos. Casa que agora tudo tem feito mais uma vez pelas famílias. Torcemos e vivemos juntos. 

Talvez eu não fosse escalado pela chefia para a transmissão. Talvez eu não fosse o escolhido. Como acabaram sendo os amigos que foram. E não voltarão para casa. 
Desculpa falar de algo pessoal. Mas sentimento é assim. Individual. Único. Ainda que choque todo mundo. E todo o mundo. E choca lembrar amigos queridos que partiram. Atletas que respeito. Famílias despedaçadas. 
Choca lembrar que torci muito por eles em toda a Sul-Americana. Que torci por eles até por ser mesquinho como gente. Queria também a Chape indo longe para chegar desgastada e focada em outro torneio no Allianz Parque. E ainda assim chegou bravamente. E saiu ainda maior ao final do jogo de campeões, no domingo. Do Verdão do Oeste contra o Verdão paulista. 

Relata Alex Ferreira de Castro pelas redes sociais: quando o ônibus da Chapecoense deixou o estádio do Palmeiras, a torcida que cantava e vibrava pelo enea começou a aplaudir a campanha da Chape. O elenco. A força. A luta. E dentro do ônibus eles começaram a aplaudir o aplauso dos torcedores rivais. 
Como deveria ser sempre. Mas não é. Aqui se mata porque alguém torce por outra cor. Aqui se mata por alguém distorcer por outra cor. Lá se morreu defendendo as cores do esporte e da vida. 
Eu queria escrever para as famílias, amigos e colegas de todos. Para toda Chapecó. Para a Chapecoense. 
Mas sou pequeno demais. Penso nos meus amigos. Penso que talvez eu pudesse ter estado nesse voo. Penso que se não vou pro Esporte Interativo eu talvez tivesse partido. Penso em mim e nos meus. E penso que não sabemos mesmo porra alguma na vida. 
Vamos mandar a mensagem que não mandei pro Deva. Vamos devolver o livro que há anos o Victorino me emprestou. Vamos fazer o projeto de internet que o Deva me convidou. Vamos dividir a camisa que às vezes eu roubava do PJ. Vamos tirar sarro do Jumelo que tanto me corneta pelo Palmeiras meu e o Corinthians dele. Vamos ligar pro Caio Júnior e parabenizar pela campanha. Vamos dar outros parabéns para o Danilo pelo assessor Diego. Vamos abraçar o Giovani Martinello. Vamos zoar o Mario Sergio por tanta coisa. Vamos aprender ainda mais de futebol com ele. Vamos ligar pro Felipe e pra Mara. 
Vamos aplaudir a Chapecoense. Vamos entrar de sócio-torcedor para dar apoio material. Vamos, clubes do Brasil, remontar o elenco da Chape. Vamos dar o título da Sul-Americana. Vamos criar a blindagem da equipe por três anos na Série A. Vamos ser coirmãos de coração. No amor e na dor.
Unidos por Chapecó. Terra do índio que defendeu seu povo e suas terras. Condá. Vitorino Condá. Como Victorino Chermont. Como tantos queridos guerreiros que partiram fazendo o que amam. 
O pé de Danilo no fim de uma partida deu a maior alegria e a maior tristeza de Chapecó. Vamos dar uma mão e o coração a todos que partiram". 

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