terça-feira, 22 de novembro de 2016

Mises: A ação como ato de liberdade!

Caro amigo, para que você se sinta mais confortável com escreverei a seguir, vou pedir que você se acomode bem antes de dar prosseguimento à leitura desta postagem, caso esteja em um ônibus sentado, coloque seu fone de ouvido para abafar o som externo do ambiente; estando de repouso em casa, sugiro uma xícara saborosa de café ou chá para que se atente ainda mais ao texto; na hipótese de estar no trabalho, sugiro que você faça a leitura somente durante o seu horário de almoço, assim poderá ler com calma e certificará um entendimento claro do que foi lido, pois o que pretendo abordar, requer uma concentração grande no momento da leitura.

Após indicações de amigos e de minha enorme curiosidade em pesquisar e aprender, fui "seduzido" com a ideia de conhecer mais a fundo o trabalho do economista austríaco Ludwig von Mises, para poder entender e analisar com vocês aqui no blog, um pouco do pensamento deste autor que vem sendo "descoberto" mais recentemente no Brasil.

Ludwig Von Mises nasceu em 1881, na cidade Lemberg, situada no antigo Império Austro-Húngaro, filho de um famoso engenheiro civil, Arthur Edler von Mises, ele realizou seus estudos na Escola Austríaca de Economia, não demorou para se destacar como um aluno brilhante. Mises se formou em 1906 e contribui de diversas formas para ciência econômica: apresentou o teorema regressivo da moeda, mostrou a impossibilidade do cálculo econômico sobre um planejamento central e, entre outras coisas (confesso não dominar a matéria, mas pesquisei a importância destas contribuições, junto a comunidade econômica), mas a principal contribuição de Mises é aquela que pretendo tratar aqui neste texto, a "Praxeologia".

Mises acreditava que a ciência econômica era um ramo da ciência da ação humana, denominada por ele de praxeologia e, portanto, não pode se submeter aos mesmos métodos de investigação das ciências naturais, suas proposições não são obtidas por experiência, são como a lógica, "apriorística" (Relacionado com o apriorismo, doutrina que confere importância aos conhecimentos, conceitos ou pensamentos "a priori", os que independem da experiência ou da prática).

Para entender melhor o método de investigação de Mises, devemos recorrer a epistemologia. Especificamente, devemos examinar a epistemologia Kantiana apresentada em seu livro “Crítica da Razão Pura”, que influenciou bastante o pensamento de Mises. Para Emannuel Kant, as proposições poderiam ser classificadas de duas formas: proposições analíticas ou proposições sintéticas, que por sua vez seriam obtidas de modo a priori ou posteriori (tratar de Emannuel Kant aqui neste blog chega a ser de uma arrogância brutal deste blogueiro, mas é necessário citá-lo, para poder compreender um pouco as ideias e propostas de Mises)

As proposições analíticas são proposições a priori, ou seja, elas não necessitam de comprovação empírica, pois todo o conhecimento do objeto pode ser extraído do seu próprio significado. A própria grafia ou significado do objeto já define o seu significado:

Exemplo de proposição analítica a priori: um quadrado possui quadro lados!

Veja que não é necessário verificar se um quadrado possui quatro lados, pois está implícito em seu significado e na sua composição gráfica.

Já as proposições sintéticas possuem informações sobre o objeto a qual não está implícito em seu significado, por isso é necessário a confirmação através da experiência, ou seja, de forma posteriori, da experimentação.

Exemplo de proposição sintática posteriori: a bola é azul.

Note que, para concluir que a bola é azul, eu preciso recorrer a um dos cinco sentidos, neste caso, a visão, não posso retirar essa informação de seu significado, tão menos de uma dedução lógica. Preciso de uma complementação para poder ter um significado.

Para Mises, e Kant, haviam proposições sintáticas que poderiam ser provadas de modo a priori, desde que a negação de tal levasse a uma contradição performativa (parece complicado, né? Mas vou tentar ser um pouco mais claro).

Em seu livro "Ação Humana", de 1946, Mises colocara toda a epistemologia e começará a mostrar toda a  base para a ciência econômica que pretende apresentar: A praxeologia.

Ele compreendeu que, para entender o que leva os indivíduos a entrarem em trocas voluntárias, ele deveria, primeiramente, entender o que leva o ser humano a agir. Utilizando o apriorismo ele nos dá o que será a comprovação base de toda a praxeologia, o principio da ação.

Mises entende a ação como sendo algo necessariamente intencional. Ele dizia que: 

“Ação humana é ação propositada. Também podemos dizer: ação é a vontade posta em funcionamento, transformada em força motriz; é procurar alcançar fins e objetivos; é a significativa resposta do ego aos estímulos e às condições do seu meio ambiente; é o ajustamento consciente do estado do universo que lhe determina a vida. Estas paráfrases podem esclarecer a definição dada e prevenir possíveis equívocos. Mas a própria definição é adequada e não precisa de complemento ou comentário”.

Foi ai que Mises nos deu sua primeira dedução básica sobre o que queria dizer: O homem, ao agir, escolherá os meios mais eficientes para alcançar seu objetivo. Ao negar esse principio, automaticamente o agente que o faz estará caindo em uma contradição. Para isso ele terá de escolher meios, e escolherá o que julgar mais eficaz, para alcançar seu objetivo (refutar o principio apresentado).

Uma coisa que deve ser esclarecida é que, nem sempre, os indivíduos escolherão os meios mais utilitários para alcançar determinados fins, mas isso não refuta o principio, pois é levado em consideração apenas o meio que o agente optou como mais viável no momento de sua escolha. Duas pessoas com objetivos idênticos podem optar por meios distintos, isso é totalmente subjetivo. Uma delas pode estar errada quanto a sua escolha, mas só descobrirá depois da ação; caso descubra antes, certamente irá escolher outro meio. Esse é cerne do principio da ação.

Isso nos leva a uma outra importante constatação: O homem sempre agirá para sair de um estado de bem-estar para outro que julga superior. Sua ação será motivada por uma melhoria de condição atual, seja qual for esta melhoria.

Em sua obra "Teoria e Historia", Mises mostra a importância do conhecimento teórico para investigação pratica, ou seja, a análise histórica. Sem esse conhecimento prévio, a análise histórica pode nos levar a compreensões totalmente distantes da correta e a ligar fatos que não tenham causalidade alguma. Coisa que abordo com frequência em meus escritos, pois concordo com a premissa de Mises, da importância de uma minuciosa analise histórica, antes de qualquer ação a ser realizada.

Vou tentar exemplificar o que seria essa analise, pense nos Estados Unidos, pois bem, no século passado a população do País vivia em uma situação relativamente mais pobre do que agora; também, no século passado, eles tinham uma carga tributária menor. Hoje em dia, eles possuem um elevado padrão de vida e, ao mesmo tempo, sofrem com uma carga tributária mais elevada. Sem o conhecimento teórico para análise da história, poderíamos concluir que a alta carga de imposto aumentara a qualidade de vida americana. Percebem a questão?

Trata-se de uma falácia lógica que consiste na ideia de dois eventos que ocorram em sequência cronológica estão necessariamente interligados através de uma relação de causalidade. É claro que o padrão de vida americano não aumentou graças ao aumento de impostos, e sim apesar dele. Mas isso requer uma analise criteriosa dos fatos que levaram à essa melhoria e não somente uma correlação de fatos.

Os princípios e as leis econômicas obtidas por Mises são de caráter universal e atemporal, isto é, eles valem em qualquer localidade e em qualquer espaço de tempo. A ação humana não pode ser limitada a gráficos e estatísticas, pois ela é imprevisível; o máximo que podemos fazer é dar palpites bem embasados (coisa que, aliás, virou "especialidade" dos intelectuais brasileiros contemporâneos). Por mais que exista persuasão ou incentivos, o indivíduo agirá de acordo com sua vontade, escolherá os meios de forma subjetiva, ele decidirá por último. O arbítrio será sempre dele.

Aquele amigo que atendeu ao meu pedido do inicio do texto, você foi persuadido a preparar uma xícara de café/chá  ou colocar os fones de ouvido e, por mais que eu tenha despertado sua vontade, você escolheu executá-la por acreditar que lhe traria bem-estar e te ajudaria a compreender melhor o que viria a seguir.

Já o amigo que não atendeu ao meu pedido, você, certamente, pôde perceber que, apesar de propagandas e todos os meios utilizados para persuadir o homem a agir de certa forma, ele, em última instancia, vai decidir de acordo com sua vontade. Com aquilo que ele entender que vai ser melhor para ele, independente dos estímulos que ele venha a sofrer para fazer o contrário.

É isto que Mises nos apresenta: Ação é a vontade posta em prática!

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